Armadilha de Vênus
Armadilha de Vênus é um coletivo de arte composto por Alix Spell e Erica Nai
Alix estuda há anos a história da mulher, seu papel sócio- cultural, sua biologia, as consequências diretas e indiretas da opressão e as polêmicas questões de gênero da atualidade. Na arte, explora o íntimo, o vazio e o peso que esmaga e corrói por dentro o corpo da mulher.
Erica Nai estuda filosofia e seu trabalho artístico fala sobre a passagem do tempo e a percepção da finitude. Explora assim, as diversas maneiras possíveis para defrontar-se com a mesma.
As artistas se uniram através do tema que sobrepõem as suas pesquisas: a loucura. A partir desse conceito, desenvolveram o Projeto Ecos Importunos, inicialmente pautado nas seguintes questões:
• Quem é o sujeito do mundo e quem é o outro?
• A mulher vive livre e plenamente no mundo hoje ou ela serve à imanência?
• Quais as consequências da desobediência?
A ideia do projeto é a de criar um ambiente onde seja possível mimetizar o processo opressor que ecoa no íntimo da mulher repetidamente até que, finalmente, a faz enlouquecer.
A Mulher, a História e a Loucura
Segundo Foucault, a loucura não é biológica, mas sim, fruto da cultura e da sociedade em que se vive. Historicamente, a loucura tem se transfigurado, ou seja, o que é considerado loucura hoje, não necessariamente era no passado. O critério depende dos mecanismos de poder, e consequentemente, opressão, que regem determinada sociedade sendo esta quem escolhe quem serão seus loucos (A História da Loucura, 1961). Quem são os loucos de hoje?
A partir dos fragmentados dados de manicômios judiciários, existentes no Brasil até 2001, constata-se que a população feminina era três vezes maior que a masculina. Adicionalmente e grande parte das internações ocorria por motivo de desobediência, sendo o responsável pela internação o pai, o tio ou o marido.
Qual e a quem essas internas deviam obediência? A mulher obediente garante a vida doméstica, o cuidado com os filhos, o cuidado do marido, usa a roupa apropriada, a pele apropriada, o cabelo apropriado, é competente mas não ambiciosa, é inteligente e burra, é sexy e recatada, é disponível mas não tanto assim, é simpática e feliz. Já a mulher que desvia do esperado pelo seu papel social responderá por diversos níveis de punição e auto-punição. Não é à toa o aumento de 43% em prescrições de antidepressivos para mulheres de 2019 a 2021.
Quem são os loucos de hoje? Para as mulheres, enlouquecer, é a única opção. Ou performamos algo que o outro diz que devemos performar e ser (e jamais seremos nada além do que uma definição alheia a nós) ou buscamos a transcendência e desobedecemos, e enlouquecemos devido ao ostracismo social.